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De que povo falamos?

por Redação LiteralmenteUAI
5 minutos de leitura

Por: Leide Botelho 

Nem Cruzeiro e nem Atlético levaram os três pontos no clássico de domingo, mas todos nós perdemos quando uma sequência lamentável de cenas tristes são vistas como as de ontem.

O torcedor aprendeu sabe-se lá onde, e com quem, que o seu rival é seu inimigo, que deve ser odiado.

Aprendeu que o outro, ainda que seja torcedor do seu próprio time, está ali para qualquer coisa e deve aceitar qualquer coisa, estar pronto para qualquer coisa. Ele vai ao estádio encarando o jogo como uma guerra e o rival como alguém a ser abatido, a companheira de bancada pode ser assediada, o jogador negro hostilizado.

O futebol é terra de ninguém, virou território livre para que tudo seja feito, e tudo seja dito usando a “esportividade”, o lazer e o lúdico como justificativa para ser cruel e desumano.

De ontem para hoje vi muitos tweets de torcedores atleticanos e não atleticanos indignados principalmente com o sujeito racista e os outros que, junto a ele demonstraram como o homem pode ser baixo e escroto na tentativa de ser macho.

Que bom ver toda essa mobilização, bom mesmo!

Mas vale lembrar a cada um de vocês que demonstrou repúdio, que de nada adianta dar RT, escrever texto, mas ser babaca quando nós mulheres lutamos pedindo respeito para que possamos dividir a bancada com vocês sem sermos vistas só como corpos, ainda que queiramos ir de camiseta e shortinho.

Não adianta demonstrar indignação e chamar de “mi mi mi” a punição para cantos homofóbicos, quando lembramos que há muitos LGBTQI entre nós, torcedores que se sentem constrangidos com estes cantos e não falam tantas vezes por medo, fora outros tantos que sonham em ir aos estádios e não vão também por medo de caras como aqueles que xingaram o segurança.

Não adianta nada aplaudir a nota do clube e não entender o quanto é preciso mais, o quanto cabe no futebol e o quanto os clubes no seu gigantismo devem e podem fazer, sendo urgente posicionamento social.

Que é preciso falar e educar sobre homofobia, racismo, misoginia e tantas outras causas sociais, já que bradamos que NOSSO TIME É O TIME DO POVO, mas esquecemos que povo é mistura.

Que povo é esse que dizemos ser?

Pra ser do povo tem que enxergar e respeitar a mulher, tanto quanto o homem, o negro tanto quanto o branco, e também o negro jogador, o índio, o estrangeiro, o trans, cis e outros tantos, quanto o hétero, o que tem GNV Black (Galo na Veia) e o que não tem GNV nenhum, o idoso e a criança. E essa gente TODA, tem voz, tem que ter espaço, tem que ser ouvida, acolhida, PROTEGIDA, se quiser ir ao estádio, tem que ter apoio se vier a se sentir insegura e violentada por outros torcedores, nunca colocada em dúvida, nunca desmerecida.

Tem que ter ação social no dia de todos e não de uns e outros.

Enquanto encararmos o futebol como espaço naturalizado para qualquer coisa e justificar que tudo ali é válido, cenas como as de ontem (10 de novembro)  irão se repetir e time nenhum poderá ser do povo.

Nossas mãos vão estar na violência alheia, nossa voz também vai estar na voz que ofende e é preconceituosa se a gente se calar ou menosprezar a luta do outro.

O futebol é um ambiente hostil e cabe a cada um fazer com que ele não seja, lutando ou permitindo que a luta exista, exigindo que a luta aconteça!

O texto é uma gentil contribuição da jornalista Leide Botelho. Foi publicada originalmente no site NOTIGALO após o clássico entre Cruzeiro e Atlético realizado em 10 de novembro de 2019. Na ocasião, ao final do jogo, que terminou em empate, foram registradas cenas de violência entre as torcidas e um ato de racismo contra um segurança do estádio. 

Leide, agradecemos imensamente a sua confiança. 

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