Última noite a beira-mar
#terror
Verônica alugou o sítio para o final de semana. Uma casa linda e afastada. Silenciosa. Com pé direito alto e paredes de vidro exaltando a vista para o mar. Nessa época do ano a orla ficava lotada, os bares lotados e as ruas no entorno da mansão, lotadas. Repletos de dois tipinhos odiosos de pessoas: os que avam os dias e noites gastando dinheiro com bebidas e mulheres, e mais bebidas, ouvindo música alta para sanar o eco do vazio de suas mentes e fingindo ser, uns melhores que os outros, quando na verdade ninguém valia nada. E o outro tipo, que era composto por aqueles que não tinham dinheiro, mas fingiam ter para agradar os ricos, comprando uísque caro com a grana da parcela do apartamento e esperando ansiosamente serem aceitos em alguma droga de clube secreto dos babacas. O pensamento a fez rir da futilidade humana.
Quando a noite chegou, ela se arrumou como sempre. Uma roupa curta no seu corpo convenientemente escultural. Cabelos longos soltos, e exalando um perfume muito atraente. Depois de pronta, Verônica saiu à caça.
Não demorou muito pra voltar trazendo Daniel a tiracolo. Ele era um cara mediano que se achava mais bonito do que realmente era. Mecânico desempregado, gastava o dinheiro do acerto dividindo o aluguel de uma mansão a beira-mar com os amigos igualmente idiotas. Daniel era noivo há três anos e tinha dito para a garota que estaria num curso de reciclagem. Nem cinco minutos foram necessários até Verônica o convencer a esticar até sua casa. Na cozinha ela preparou dois drinks. Voltou pra sala, onde ele a esperava e o entregou um dos copos.
Daniel se jogou no sofá e bebeu. Ela sentou-se ao seu lado e logo ele a puxou para um beijo. Assim que seus rostos estavam colados ela se afastou.
“E a sua noiva?”, perguntou séria.
“Ela não precisa saber, né?”, ele respondeu com uma risada debochada, já chegando pra perto novamente.
Assim que seus lábios se tocaram foi a vez dele se afastar bruscamente. Se levantou levando as mãos ao abdome onde agora cintilava uma adaga prateada que despontava nas costas. Seu sorriso debochado deu lugar a indagação. Verônica se aproximou e, de uma única vez, puxou a adaga. Ele sentiu o sangue jorrar quente por entre seus dedos e caiu, primeiro de joelhos e em seguida com a barriga pra cima, tentando, inutilmente, tapar o buraco que agora existia em sua barriga. Ela se ajoelhou ao seu lado com o mesmo sorriso debochado nos lábios e se preparou para a pergunta que sempre vinha.
“Porque você fez isso?”
“Você. Não. Precisa. Saber. Né?”, disse ela pontuando cada palavra com uma facada mais forte.
Quando o silêncio voltou, ela o avaliou com desprezo. Já imaginando que ele não seria bom. Abaixou-se e mordeu um pedaço da bochecha ensanguentada. Mastigou por um instante e cuspiu novamente sobre o corpo.
“Tem gosto de merda”.
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