Se você é leitor e esteve desconectado das novidades literárias dos últimos tempos, provavelmente não ouviu falar de uma das sensações do momento: a autora Ali Hazelwood, que se destaca com romances fofos protagonizados por mulheres das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
Sendo ela própria PhD em Neurociência, Ali conhece bem o mundo das exatas e traz à tona a realidade, a vivência e o cotidiano desses personagens interessantíssimos — profissionais que contribuem significativamente para o avanço do conhecimento, o desenvolvimento de soluções e a transformação da sociedade, muitas vezes enfrentando desafios históricos relacionados à equidade de gênero.
A homenagem é justíssima e tem agradado bastante! Não à toa, Ali Hazelwood sempre figura na lista dos autores queridinhos do TikTok, nova categoria que surge entre os livros que viralizaram nessa plataforma.
Para quem quiser saber mais sobre esse movimento, indico esta matéria da BBC Brasil: BookTok: como TikTok está transformando jovens em leitores e autores em best-sellers
Dito isso… conheci Ali Hazelwood lendo um de seus best-sellers, Amor Teoricamente, escolha de leitura do Clube Poções & Prosa no mês de maio de 2025.
Das alegrias de participar de um clube de leitura, sempre destaco a possibilidade de ar livros que talvez não estivessem entre as minhas primeiras escolhas, conhecer autores totalmente fora do meu radar e, ainda, conversar sobre essas histórias com pessoas de bagagens e gostos literários diferentes.
Sobre Amor Teoricamente
Conta a história da física teórica Elsie Hannaway, uma mulher sobrecarregada física e emocionalmente, indecisa, que enfrenta diversas dificuldades — especialmente financeiras — para sobreviver, comprar sua insulina e comer queijos com a sua melhor amiga.
Elsie é aquele tipo de pessoa que suprime suas emoções e opiniões, adaptando-se conforme a situação. Por isso, acaba fazendo o que não quer apenas para agradar os outros. Isso vai desde as suas relações familiares ao convívio com a sua colega de quarto e submissão ao seu orientador.
Do outro lado, temos seu aparente rival de Elsie, Jack Smith, físico experimentalista (gostoso) que se mostra confiante em todos os momentos, apesar de carregar traumas da infância envolvendo a física. Jack chega na história determinado a impedir que Elsie consiga o emprego que pode trazer estabilidade e melhorar significativa a sua vida.
Dos embates entre os dois e interação com outros físicos — muitos diálogos permeados por termos técnicos da física, inclusive nas piadas — percebemos que, na verdade, já há química e amor prestes a desabrochar, pois Jack enxerga a verdadeira Elsie e está disposto a ajudá-la a ser quem realmente é.
“Sabe como o elétron atende o telefone? — Próton?” (p. 81-82)
Tenho várias críticas em relação à construção da personagem feminina — algumas atitudes são extremamente imaturas para a idade e posto que ocupa — ela é professora universitária. Talvez essa postura esteja relacionada a aspectos culturais ou a uma crítica social inserida propositalmente pela autora.
No geral, gostei da história. Achei levinha, com linguagem ível e todos os ingredientes e clichês que uma comédia romântica deve ter:
“Não somos tão diferentes, eu e você, penso, e então percebo que solto o ar com força. Estava prendendo a respiração e nem tinha percebido.” (p. 288)
Ao mesmo tempo, em que não gostei das inúmeras citações de física (quase uma imersão — nunca foi minha matéria favorita), apreciei bastante a inclusão de elementos atuais, que certamente geram identificação imediata com o público-alvo.
“Acabei de chegar. A reunião do corpo docente durou um tempão, sem motivo nenhum… tudo poderia ser resumido em dois TikToks de quinze segundos…” (p. 224)
“Estou torcendo por uma minissérie da Netflix. Alguma coisa sexy, tipo Bridgerton, sabe?” (p. 219)
Ao terminar a leitura, que não me prendeu, tive a sensação de que a história renderia uma boa adaptação — daquelas em que o filme pode ser melhor que o livro.
Amor Teoricamente é um livro para curar uma ressaca literária ou simplesmente ar o tempo. Quem tiver uma bagagem literária mais robusta talvez apresente diversas críticas — mas, para mim, o que importa é que as pessoas estão lendo, gostando e indicando.
É um livro que abre as portas da literatura — assim como Crepúsculo fez em nossa época. História, aliás, que é a preferida da nossa protagonista.
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